sábado, 7 de novembro de 2009

Entre o Útero e a Sepultura



Saí da escuridão do útero



Vou para a escuridão da sepultura,



Entre os dois abismos negros,



Num estreito feixe de luz, eu vivo.





Não sem sentido,



Não como se soubesse o real sentido,



Apenas vivo.





Sigo em plena gestação de alguns poucos anos,



Sendo formado a cada dia no útero da vida,



Lentamente, constantemente, integralmente...





Por vezes me sinto incomodado



E chuto o ventre que me acomoda,



Nestes momentos sinto a mão suave



A acariciar-me e a falar com carinho:



- Calma, filho! Falta pouco para você nascer!





Talvez a palavra “Parto”



Seja irmã da palavra “Partir”.

sábado, 1 de agosto de 2009


Chove

Um silêncio

um abrigo onde se esconder

quando estiver se afogando

num sobe-desce do céu

numa asfixia cortante

dilapidando a alma

Abra a janela

o poeta foge da metáfora

os navegantes despedem-se da memória

E quando realmente conseguir olhar pela janela

a alma fica gemendo

porque chove torrencialmente a aqui dentro.


sábado, 11 de julho de 2009

Logos

Adoro a Palavra de carne e sangue
Que pariu a luz
Na força de uma única palavra:
Haja!

Adoro a Palavra ensangüentada,
Transpassada, abandonada...
Que silenciosamente calou a morte
E fez gritar a vida.

Adoro a Palavra alvissareira
Arauto das boas notícias
A derramar verdade
Sobre nossas cabeças.

Simplesmente adoro a Palavra.

Por: Clauber Ramos

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por atrás dos olhos


Difícil fotografar

o essencial

Entretanto queria,

revelar

O que estar atrás dos olhos

e respirar

Aprendendo a ver o visto

no caminho

Uma espécie de gerúndio

do olhar

Silêncio escorre

principia

o que não foi dito

silencia

Imobiliza-se

Fica sendo.


Nazareth Queiroz

terça-feira, 7 de julho de 2009

Conversa com Santo

Que beleza, mês de Santo Antônio. Às vezes penso que conversa com santo não precisa de tanta pressa... Mas será que fico velha sem ter essa conversa? Mas nada de castigos ou pedidos, do tipo “quero um marido”. Não acho marido uma palavra bonita. Mas me conceda santinho escrever versinhos, não preciso de imagens, simpatias ... só versinho. As vezes me flagro, minha alma gosta de música e ninhos. O mais custoso de confessar santinho é que passear versinhos com o sexo oposto me deixa de cabeça virada... Aí adormeço as margens do verso, do inverso do que peço. Então faço um pedido, coisa simples santinho, feito vôo de passarinho... Não quero marido, quero todos os modos do sol. Tenho vergonha ser feminista, nessa hora santinho, só por causa dos homens é que sou, porque gosto demais deles. Mas chega de conversa santinho, você me desculpe pela intimidade, o senhor entende. Acho que espero algo assim, um homem humano, que ande em via-crúcis e via-láctea. Neste dia, os sonhos fazem fila, conheces os sonhos, santinho?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Gotas de Sol

Gotas de sol
Pingam na janela,
Deságuam cascatas de luz.
Chega Aurora
Vestida de céu
E me tira pra dançar.

Recebo de presente
Um sonho
Embrulhado
Generosamente
Em papel de seda esfuziante.

Recheio de imagens,
Duas vezes cheio de imagens
Meu presente
Faz enxergar os homens e sonhar as crianças

De: Clauber Ramos

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Não ouso compreender


E desanda o verbo
A despedida bate a porta
E as letras não formam
Tudo já era findo
Na poesia que ronda
Não ouso compreender
Antes éramos bichos meio verdes
Bichos instruídos
De ácida geometria
De natureza cócegas

Mas daqui vejo melancólico
Como um filme de Carlito
De maduros desejos
Não ouso compreender
Engenharia que conversa
Viagens da alma
De mineral seda

Descubro-te ausente na Casa Amarela
Vejo-te púrpura sorrindo
Enomatopéias... Bah!!!
De ímpeto surgem e nutre nossa flora companhia
Não ouso compreender

Teu retrato, converso
Te sinto no recinto
Estás longe – perto
No mundo de Suzi...
Não ouso compreender
Teu chão voejando
Às vezes suspiros
Ás vezes seu grave sorriso

Que alegre menina
Sempre voando pelo céu
Sua janela é alta
Seus reflexos escorrem no rio
Seu bimotor zumbindo
Não ouso compreender
Vôo invisível
Suas lanterninhas ao desconhecido

Sssssssssio.... aumenta mais o silêncio
Um poeminha chegou lagarteando o sol
Não ouso compreender
Teu mundo alheio pousa entre nós
Pirulin de cor Cris
Cai por aqui

Que imenso trabalho nos custa a flor
O autor da rosa não revela a dor
Deus ajudaria, bem-aventurança do Homem
Pulverizado coração, range tímido
Exala gosto
Como corolas atrás do sol
Não ouso compreender

E a lua pousa
Letras que formam nomes
Violoncelo de lenta musica
Irradiam da gaveta
Na grama fria, João e Maria
Não ouso compreender
Quando a alegria entristece
Em cristais que tilintam vida

Poesia que nasce em setas
Injetam palavras
Tetas que jorram letras
Não ouso compreender
Letras que tramam transes
Trançam a transa da palavra

Dissolvendo a cortina da palavra
Tua forma abrange a crônica da vida
Escorre a esfinge
Lança com os olhos
O jeito mais natural
De preparo da poesia
Não ouso compreender
Entoada crônica do Homem flor

Mas vejo daqui...
Glória em glórias
Nunca nossas almas estarão prontas
Um badalar tece rimas
Na lua vindo... nas águas prosseguindo
Um embalar de idas
Não ouso compreender
Estranha nau parte
Não ouso esquecer.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Poeta e a Estrela

Ao contemplar a estrela
Deus chorava sozinho
E molhava a noite de sal.

As lágrimas que caiam
Espelhavam o infinito brilho
Enchendo a noite de sol.

Sal e sol se misturavam
Condensados ao brilho
Surgindo o primeiro mar.

Do mar então veio a terra,
Da terra as plantas e bichos
Parindo vida e sentido.

Diante de tanta beleza
O Deus poeta tão só,
Ansiou compartilhar.

E num rompante de poesia
Imerso em imensa alegria
Criou o homem e a mulher

Parecia que agora
Deus teria companhia
Para olhar a estrela,

Mas a mulher e o homem
Não enxergaram a poesia
De um bate-papo com Deus.

Porém a solidão do criador
Não é solidão humana,
Não se cansa de esperar.

Assim sempre que alguém,
Aquela estrela admira
Vira Poeta e amigo de Deus.

De Clauber Ramos

sábado, 23 de maio de 2009

Madrugada Morna

Para Nazareth Queiroz
Acordo na madrugada morna, os olhos estão chumbados, mas a mente em turbilhão ricocheteia entre os oito cantos do quarto. O ziguezaguear me deixa tonto e perplexo. Pergunto: o que fazer? Minha pergunta volta em um infinito ecoar de cachoeira.

Olho em volta e me detenho em duas pequenas mariposas que voam freneticamente em volta de um sol-miragem ao lado da cama. Jogo pro lado o travesseiro e atravesso o tempo a observar a ilusão da falsa luz que não as leva a lugar algum. Persigo a mesma utopia. Sou apenas mais um inseto neste mundo de sapos! Ouço novamente os ecos de meus questionamentos.

Levanto, sigo desnorteado pelo corredor como quem foge de uma prisão, mas ainda me sinto preso. Tomo um copo d’água, a sede continua. Continua e nua, sede de não sei que.
Pela janela, entre as grades, observo os poucos carros que passam quebrando a monotonia da madrugada. De onde eles estão vindo? Prá onde será que irão? Meu Deus! Nem sei de mim, por que ainda me preocupo com tais coisas? Olho prá rua como Narciso em frente ao espelho! Olho pra mim como a enfrentar a esfinge, decifra-me ou te devoro!

Volto pro quarto, arrumo os travesseiros, tento espantar a insônia que insiste em me chamar pra briga, olho pro lado e vejo as mariposas caídas ao lado do abajur, cadavérico fim de uma busca sem sentido algum.

A insônia persiste, é forte. Mas eu também serei forte quando brilhar o primeiro raio de sol da aurora. Eu também serei forte quando a verdadeira luz entrar por entre as frestas da cortina.

De Clauber Ramos

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Se soubesses


Se soubesses, que meia-noite olho o céu –
um mundo aéreo de tons suaves me leva,
um feixe de forças voantes me transporta para uma brancura noturna...
Se soubesses, que meia-luzes primitivas roubam meu sono, tua imagem se aninha numa luz leitosa, o leite da lua, banha o céu...
Se soubesses, que essa claridade que ofusca leva tua imagem....
Se soubesse, da tua matéria, sairia do seio da noite intumescida,
para penetrar nos cumes, como nuvem de fogo,
Se soubesses, da alegria dos teus olhos, multicolorido silêncio...
Imponderável hiato
Se soubesses, cheiros de ti,
se faz presente e alinha os vértices do ângulo...
Se soubesses, da força que vem dos sonhos
da sede, ouviria da tua boca todo hino que flutua
água doce
escorrendo para o rio
Se soubesses,
mas ainda não conheces
Se eu mesma conhecesse
para existir
e
soubesses de mim...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MÃE

É teu destino, ô mãe
Amar com amor
Às seis da amanhã, hora da missa
Mãe chama, vem se não esfria...
Pingos de mãe, vão caindo sem parar
Ô Mãe , entende sem perguntar
Mãe vai pingando, pingos de ave-maria
Colhi meus sonhos e pede a virgem Maria
Não é para entender o que mãe pensa
E o terço escorrendo Pai-Nosso e Salve Rainha
Pingos de mãe vão caindo
A qualquer hora a qualquer dia
Canta para que eu ache a vida
Reza seus pingos a Deus pelos filhos
Ô Mãe, as palavras de nosso senhor cantas com louvor
Pingos de doce cor
Caem acendendo a beleza da vida
Sol-com-chuva e arco-íris com lua
Ô meu Deus, pingos de Mãe não cessam
Armazém do mundo
Pôs o mundo no colo
Sossega borboletas
Porque seu amor é tão leve
Quanto seu sorriso
Ô Mãe, tua luz
É sopro de vida.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Banzo

Minha mãe fazia acrobacias com pedrinhas,
Às vezes com laranjas,
Outras vezes com os sete filhos.

Cantava quase o dia inteiro,
Gostava de dançar
E escrevia nos seus diários aquilo que lhe vinha à mente.

Tinha um álbum de postais
Onde curtia o banzo da terra Natal
E a alegria de eternas lembranças.

Fazia um pudim de pão
Simples,
Mas com gosto de mãe.

Um dia ela me mostrou Deus
E algum dia, eu sei,
Deus me mostrará novamente ela.

De Clauber Ramos

domingo, 26 de abril de 2009

Fraqueza do macho

“Se tenho que me gloriar, me gloriarei em minha fraqueza.”
(2 Cor. 11:30)
Não busco palavras,
Construções perfeitas
Ou sintaxes irrepreensíveis.
Procuro sentimentos.
Sentimentos presentes no meu dia-a-dia
E ocultados pela auto-preservação.

Quero expor as mazelas da minha alma,
Trazer à luz as fraquezas encobertas
E a pobreza do meu coração.
Tenho medo, angústia, tristeza...
Sou inseguro e tenho falta de fé.

Sou fraco em coisas que às vezes
Pareço uma rocha.
Sou forte quando não deveria ser
E por isso sou independente.

Atitudes me faltam
Quando deveria agir,
Ações me atropelam
Quando deveria apenas ouvir.

Tenho necessidade de reconhecimento
E não sei lidar com ele,
Um elogio me desmonta
Tanto quanto não ser elogiado.

Sinto carência de afeto
E medo em demonstrá-lo
As pessoas me assustam,
O contato próximo me apavora.
É difícil abrir meu coração
Expor opiniões é bem mais fácil
Do que expor a si mesmo !

“Miserável homem que sou!
quem me livrará o corpo desta morte ?”

Vou em frente, luto contra mim mesmo
Com socos, tapas e pontapés
Esmurro o homem interior
Até que ele, sem forças para reagir,
Manifeste a verdadeira força que há na fraqueza

E assim sigo a rascunhar os dias,
Por vezes tateando o Infinito efêmero,
Encharcado de humanidade.

De Clauber Ramos

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Humano
O mundo atrás do homem
Um devaneio filosófico
Uma espécie de inclinação sonhada fora do mundo
Hamlet apaixonado
Infinitos signos de lembrança chegam da imensidão do mar
São Jorge num estado de alma sonhando a lua do mundo
Nudez íntima
Como se o mundo inteiro houvesse desaparecido
Êxtase do sensível!
Bocejos do humano
é senão
A beleza do outro
.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Margem
No primeiro azul do dia
Começarei a inventar uma palavra
Porque toda entonação quer perguntar
O que será mais difícil?
Ser margem, ser rio!
Conter a água, ser água contida.
Mas antes vou me deixar cair no rio
Alinhar-me as margens
Porque estar às margens é acompanhar o giroscópio íntimo da água
dizendo: entre no mundo, talhe uma margem aérea.
Porque o mundo é mais belo que verdadeiro
Aguardarei setembro chegar,
quando todas as macieiras guardam sua vermelha cor as margens da boca...
Mas vejo adiante, as águas turvas do rio, seu viver líquido alcança as margens.
Chuva deveria se chamar tristeza, claridade alegria.
Rio caminho da água, margem companhia.
Ufane afirmação, para margeadas respostas....

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Na margem da página

Na margem da página, como na margem de um rio,
Tenta em vão o poeta pescar palavras,
Enquanto estas insistem em nadar pra outra margem
É dura a vida de pescador!

Na outra margem, sem pressa,
Outro poeta, não pesca, apenas contempla
O incrível nado sincronizado
De centenas de palavras.

Não quer capturá-las, as palavras devem ser livres,
( Apenas contempla extasiado )
E as imagens seguem nadando da sua cabeça
Para a margem do papel.

De Clauber Ramos

sábado, 18 de abril de 2009

FALENAS

Gotas negras caem como temporal...
Há um movimento que canta, cantos do reflexo do rio
Quando estamos no nosso tempo, podemos observar...
Vértice do silêncio a fremir, assim o sonho não morre...
Ouço seu canto na interseção do meu canto... mas as flores frágeis ainda estão fechadas, aguardando um adjetivo para florir sua substância..
Poliédrico vôo, tudo o que toco permanece nesses limites...
Gotas aéreas de um espírito voante caem no meu canto... vôo baixo, rasante... vôo de pensamentos...
Cantam clareando o canto...
Um único canto soma o universo num cântico de silêncio atento...
Um canto de asas voantes...

Nazareth Queiroz
15/04/2009.




sábado, 11 de abril de 2009

Entre a tensão e o alvo

Atiro uma flecha no alvo
E a certeira flecha descansa,
Aguarda o momento
Em que novamente empunhada
E tensionada entre a corda e o arco,
Se lançará novamente no ar.
Estou certo que para a seta,
Mais importante que a meta atingida,
É o caminho.

Entre a tensão e o alvo
Existe um breve espaço de tempo
Que se chama liberdade.

Atiro a palavra no alvo
E neste instante ela é livre...
Só palavra, nua,desprovida de explicações.

Entre o falar e o ouvir
Existe o ínfimo momento
Em que a palavra voa solta pelo ar.

Câmera lenta é a poesia a nos permitir contemplar tais lapsos.

De Clauber Ramos
AMAR

VERBO
EXPANDIDO
NOVO LUGAR
PARA
CONJUGAR
COMO ESTAR NO MEIO
DO TEMPO
FALTANDO-LHE PESSOA,
MODO PARA
UM
AR
IRREGULAR


AMAR
QUERO COMEÇAR PELO FIM
MODO IMPERATIVO
AME(VOCÊ)
PORQUE SE EU AMASSE
PRETERITO MAIS
QUE IMPERFEITO
TRATARIA DE INDICAR NOVAS VARIAÇÕES
CONJUGARIA NO INFINITO PESSOAL
AMAR EU, NÃO.


AMAR

PRECISO DE UM VERBO AUXILIAR
SAIR DO SUBORDINADO TEMPO DO OUTRO
QUANDO PERGUNTAREM A MIM, DAREI UMA
RESPOSTA ASSIM:
FUJA RÁPIDO PARA AS FORMAS NOMINAIS
INFINITO IMPESSOAL
AMANDO-SE

AMAR

PORQUE TODOS PROFESSORES
QUEREM QUE APRENDAMOS
A CONJUGAR?
HÁ UM JEITO DE EXPLICAR,
DE EXPANDIR
SEM CONJUGAR?

NÃO

AMAR
VERBO
REGULAR
EXPANDE-SE
NO GERUNDIO
AMANDO
COM
PARTICÍPIO
AMADO.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Amor de co®po

Escondido
Por trás
Do seu chapéu
O mexicano
Apaixonado
Disse: te quero...

E a tequila
Tonta de amor

Deixou-se tomar.

Gloria Kirinus
www.gloriakirinus.com.br
In “Lâmpada de Lua”
Editora Ave Maria
SEXTA FEIRA SANTA
DA PAIXÃO

ACOMODO LENTAMENTE
ESPINHOS
NAS BORDAS DO
MEU PRATO.

DE LONGE
A SAMARITANA
APROVA ESTE BANQUETE
NUM CÁLICE
DE COMPAIXÃO.

DOIS CEDROS
EM CRUZ
ACOMPANHAM MEU SILÊNCIO.

E O ROSTO
ESQUIVO
DE CRISTO

PARECE QUE SANGRA
MENOS
Gloria Kirinus

quinta-feira, 2 de abril de 2009

CATAVENTO

Olhei para todos os livros
girei o catavento
Entre tantos ventos, veio um coro de amigos
Visconde de Sabugosa, trouxe a Deusa do Conhecimento
e ninguém há mais de ficar tão só,
Chapeuzinho Vermelho chegou na companhia de sacis da floresta, até Boitatá quis participar;
todas Bruxas, de narizes compridos, olho de peixe morto, de bicho-de-pé.
De repente a lua se encheu de toda infância
e o catavento continua aos ventos trazendo boas companhias
entre as estrelas surge Peter Pan na companhia veja só de quem? Emília e suas encrencas
Cinderela contando histórias, mas quando Menino Maluquinho chega todos ficam de boca aberta
traz consigo, Sherazade e um megafone, todos imóveis querendo saber o quê será dito!!
Ah!! Os ventos vêm e o tempo não passa...
Lá se vão horas de histórias...
Todos caem em estado de poesia numa sopa de letrinhas.
Lá ou aqui ligeirinhas tirinhas de ventos trazem lendas e fantasias
Ali-Babá e os quarenta ladrões diz que se tivesse tempo ficaria para ver Rapunzel e suas tranças,
Quantos ventos deste catavento giram atrás do tempo,
do tempo da história, de pírulas falantes.
E o que será dito neste giro de tempo do catavento?
Hoje é dia DE TODOS LIVROS QUE CONTAM HISTÓRIAS INFANTIS...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Madeira
Como tivesse vida
madeira corta asas
imagem sem imagem, madeira sem árvore
fecundidade sacrificada
viva linguagem convertida do verde herbario
infundem no vigor de vida física
subitamente estática
não ser árvore, mas ser palavra
madeira - ausentar-se de árvore
ausência sem lei - à deriva
madeira contenta-se em transportar
ópio da imagem
vaporosa miragem.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Menina

Ouço o interior dos teus sonhos como a primavera que cruza o rio
cruza o sonho que tu sonhas
Eis-me aqui... cheia de cantigas de ninar
Pra lembrar que teu céu é imensamente azul
que todas luas te espiam, por trás das estrelas pra cuidar do teu mundo
e deixá-lo iluminado com todos os tons musicais
assim o vento corre levando a você todos verbos alegres
cada palavra é uma borboleta menina
de grave beleza. de curiosidade idade
que anjo menina, apenas espia a vida...

sábado, 14 de março de 2009

S U S P I R O S

A cozinha estava escaldante. Era um dia muito quente. Ela nunca havia sentido tanto calor.
Batia vigorosamente clara de ovos colocada no prato fundo. Estava preparando para seus dois netos, que viriam visitá-la logo mais tarde, gostosos e caprichados suspiros. Docinhos que eles muito apreciavam, e que entre suspiros de satisfação, diziam sempre que aqueles, feitos pela vó eram os melhores. Tinha por isso muita satisfação ao fazê-los
Ganhara de sua filha, há pouco tempo, uma batedeira até bem moderna, mas de uso um pouco complicado. Preferia então bater as claras com o garfo, o que era mais cansativo, porém achava que assim ficavam melhores, e também não fazia tanto barulho.
Quando percebeu que as claras estavam bem consistentes, preparou a forma e iniciou o trabalho de pingar os suspiros, conseguindo que ficassem em fileiras bem certinhas. Á medida que ia colocando os docinhos na forma dava um puxaozinho na colher, para que assim se formasse em cima de cada um deles uma ponta meio longa, que os deixavam mais bonitos e com melhor aparência.
Enquanto fazia esse trabalho, lembrava de seu pai, que há muitos anos atrás, lhe contara a historia da guerra na Rússia. Ali os soldados usavam capacetes redondos de metal, e que tinham em cima uma haste aguda apontada para o alto. Parecia até ser uma arma que eles usariam se necessário, para defender-se. Seus suspiros lembravam aqueles capacetes. Ela até havia visto fotos daqueles militares em jornais bem antigos, marchando em formação perfeita. Deu um suspiro profundo, sentindo saudades de seu pai e das interessantes histórias que ele contava.
Continuou pingando as clara em filas bem certinhas. Enquanto trabalhava sonhava, e via nos suspiros as fileiras daqueles velhos soldados marchando garbosamente.
Se, seus netos pudessem vê-los iriam vibrar.
Quando colocou o último docinho, estava muito cansada e sentiu uma leve tonteira. Deixou a forma em cima do fogão e acendeu o forno. Pareceu-lhe que a tontura ficava mais forte. Sentou-se no chão.
Nesse momento seus dois netinhos entraram correndo na cozinha, fazendo uma bruta algazarra e rindo alegremente. Vendo os docinhos na forma. Gritavam:
Oba vó! Que legal! Está fazendo suspiros para nós? Vai demorar?
Estavam loucos para devorá-los.
Ouviu, mas não pode responder. Entreabriu os olhos, mas não conseguiu vê-los.
Sorriu levemente. Os meninos ouviram então um som diferente que vinha de dentro do peito da avozinha. A respiração dela estava esquisita, bem forte.
De repente ela levantou com força o queixo, gemeu e exalou seu último suspiro.
Curitiba, novembro de 2008.
Suzi Mariano Gubert.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Substância humana
objeto modelado de fome
bela desordem na caixa mágica
translúcida no ar lúcido
suave como uma bolha de ar
longínquo passado aflito
a química
o corpo
fragmentos da existência
dossiê de camadas do inconsciente
a tentação de narrar uma variedade de tons
orquestra silenciosa
a tentação de decidir
natureza impensada
galopando palavras
apodero-me
escolhê-las
lançá-las livremente no alvo
num rio rolando
fluxo
refluxo
fios
luzes
vida

sábado, 7 de março de 2009

DIA DA MULHER

SER MULHER é ter consciência exata do certo e do errado, firmeza em suas decisões, pensar antes de tomar atitudes, agir sem medos, ser centrada, coesa, verdadeira no que diz e faz, seguindo á risca seus bons princípios que não admitem enganos.
Deve estar sempre atenta, tanto em sua vida doméstica, como na profissional. Ter ótima condição física e psicológica, porque são duas jornadas diferentes que precisam ser bem conciliadas, para não perder o norte e nem a coragem, sentimentos estes inerentes ao sexo feminino. Nesse contexto estão as obrigações diárias, que parecem corriqueiras mas que na verdade são exaustivas e desgastantes.
Neste dia especial, escolhido pela sociedade para ser o “DIA da MULHER”, quase nada muda ou fica diferente.
Ser mulher, mesmo no dia a ela dedicado, a rotina continua. Tem que levar o filho ao colégio, adivinhar se o menino vai precisar ou não do agasalho, pois com esse tempo eternamente instável não sabe se vai chover ou fazer frio. Já a caminho tem que voltar, pois, o garoto esqueceu o caderno de matemática com a lição do dia.
Isso tudo, ela faz sozinha, porque o marido sempre tem mais pressa. Mesmo já tendo tomado o café que o esperava na xícara, ter sido avisado para ir a reunião de pais no colégio do filho, aonde ela irá esperá-lo, e lembrá-lo também de ir ao dentista, no horário marcado para hoje. Ele nem toma conhecimento desses detalhes, embora não precise passar cremes, acertar sobrancelhas, e nem abotoar o desagradável sutien. Ela tem absoluta certeza que se não der esses avisos, ele não vai lembrar de nada.
Enquanto isso precisa colocar as meia, dar uma lixadinha na unha que lascou, procurar a chave do carro, e pedir mais uma vez ao filho que se apresse, pois do contrário terá que pegar o menino pelo colarinho e sair correndo para tirar o carro, porque estão em cima da hora.
Ser mulher é dirigir, ao mesmo tempo em que fala no celular, dizendo à empregada o que deve ser feito para o almoço, pois esta, ainda não havia chegado, quando teve que sair.
Ser mulher é ainda demonstrar competência, responsabilidade e pontualidade em seu trabalho de executiva. Para isso terá de completar hoje, o relatório, que seu diretor pediu para ser entregue até amanhã sem falta.
Logo que sai com o carro, o celular bate. È o marido pedindo á ela que vá até a lavanderia pegar suas camisas, pois vai precisar para o jantar da empresa em que trabalha logo mais á noite. E ainda, recomendando para ela não se atrasar pois terão que antes passar no hotel, onde estão hospedados o diretor e a esposa e leva-los ao dito jantar. Ouve o recado do marido com as mãos no volante, morrendo de medo que a verdinha a veja cometendo essa infração, lhe dará multa, e a fará perder mais uns pontinhos na carteira.
Ser mulher é ainda ter que ir ao cabeleireiro, pois vai acompanhar o marido naquele encontro onde todos estarão com as esposas. Aí, ela deve estar de bom humor, alegre e com ótima aparência. Ter de manter conversação com aquelas mulheres que mal conhece, e com as quais não tem a mínima intimidade.
Enquanto isso lembra, que ainda não conseguiu terminar o relatório, para ser entregue ao seu diretor, amanhã sem falta. Vai ter que fazê-lo quando chegar da festa, pois não pode deixar para o dia seguinte. Se deixar vai ser uma barra. Mas, apesar de todo esse sufoco não vai abrir mão de nada. Irá ao jantar sim, e também fará seu relatório. Enquanto isso ELE já estará no terceiro sono.
Ser mulher é muitas vezes, fazer o que não gosta, ir onde não quer, ouvir o que não precisa, e fazer o possível para não ficar cansada.
Sabe, entretanto, que faz tudo isso imbuída da maior satisfação pessoal. Pois sente muito orgulho pela profissão que abraçou, sua casa é seu paraíso, seu filho é sua vida, e tem um grande, imenso amor por seu marido.
Bom mesmo seria nesse dia, que dizem ser o DIA da MULHER poder soltar o cabelo, por um vestido bem bonito e confortável, dar boas e gostosas risadas, beijar seu filho com todo amor e carinho, e o melhor de tudo isso é então sair, sem pressa, descontraída e feliz para ir dançar com o marido.

Curitiba, março de 2009.

Suzi Mariano Gubert.






sexta-feira, 6 de março de 2009

Dobras no Papel

Como a criança cria em tudo,
Criava tudo na imaginação,
Dobrava o papel, fazia um barco,
Com outro papel, eis um avião...

Não pensava em conhecer novos mares,
Nem queria alcançar novos céus,
Dobrava, dobrava, dobrava, dobrava...
Despretensiosos sonhos de papel.


De Clauber Ramos

A Vida se encaixa em caixas:


Caixinha de surpresa,

Caixa de Pandora,

Caixa - forte,

Caixa - preta,

Caixão.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Não conhecer
No canto escuro do quarto palavras úmidas estão penduradas – dói olhar para o papel em branco – porque desconheço o que ali está escrito – monótonas palavras, não conheço conceitos de mundo... no cenário espiam-se indecifráveis imagens... porque meu mundo é do tamanho do que vejo... queria esmagar e calar as palavras que gritam estilhaçando meu silêncio – é assim que muitas vezes tenho matado o que não compreendo... assim como a chuva intimida o sol, a cegueira do não conhecer transforma a vida num sono – aborrecidas palavras mudas - coladas no frio da alma – fico ali parado – assistindo ao desconhecido – extrema imaginação justificada – só me encontro no espelho, onde consigo ler minha própria imagem...
Nazareth Queiroz
Fev/ 2008
Arcanjos
Por que pedir a todos os arcanjos...
Um coração gira atrás do sol
Suas palavras percorrem águas profundas
Juntas não se fundem
Estão amarradas por palavras isoladas
Ouça! Ninguém chega até aqui
Há uma vereda secreta, nesta vasta floresta
Você pode subir num balão e olhar de longe
Que frases estão sendo formadas
Todos os pronomes do tempo
Vem vindo como um sonho
Por isso não rasteje feito asas de borboleta
a vida é feito pele de cobra flutuante
uma filosofia de coisas
que tamborilam feito pingos de chuva na cabeça...
Março/ 2009
Nazareth Queiroz
Calar


As tarefas de meu Pai
Estão sendo relegadas
Por pura insubordinação
Por orgulho, por pirraça.
Por grande incompreensão
Teu passado é teu presente,
Como agora é teu futuro
Se plantares colherá,
Com a mesma proporção.
Recompõe teu equilíbrio
Adoça a boca com o amor,
Em vez de fel do egoísmo,
Engolindo a própria dor.
Calar, calar, esta é a chave
do verdadeiro saber,
Porque falar sem iluminar
É como nada dizer.


Março, 2009
Zélia Crisóstomo

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Nó de nós

Nós de nó
Nós entre nós
Nós entre eu
Nós entre você
Isto de nós
Entre nós
Nós a sós
Entre nós



21/02/2009
NazarethQueiroz

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Se não fôssemos amigos o coração se apresentaria sozinho, até o silêncio se comunicaria,
mas o vento é vazio e sem promessas.
Que se espera? Esperamos ser julgados por um pássaro enlouquecido que atravessa o silêncio.
Inútil
A palavra dita já esvaziou o silêncio. Então, ficamos calados, porque se não fôssemos silêncio – deixaríamos de ser amigos...

...que é poesia

Não sei o que é poesia

Todos meus fios de cabelo dormem

Todo meu corpo é ilha

Todo meu silêncio encharcado na chuva

Alucinada corro entre pingos

Parei na margem tranqüila da taça

Mergulhei no vinho triste

Porque sinto muito frio

Porque o céu estar tão escuro

Meu caderno atulhado de frases

Todas as frases com fome

Despencam

Sem palavras....

Nazareth Queiroz

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Chuteira de João e Maria

No campinho, João levanta poeira com sua chuteira nova. Está eufórico, quase não cabe em si de tanta alegria. Era a primeira participação como titular da equipe. Até então só entrava para “quebrar um galho”. Não poderia jogar com chinelo de dedo ou descalço pois sempre lhe arrebentavam, principalmente o dedão.
Mas agora não. Aquele dia era especial. Havia ganhado sua primeira chuteira.
No campeonato da escola tivera inicio e lá estava ele. Fazia parte daquela turma de moleques, mesmo tendo pouco tempo para os treinos, pois precisava ajudar sua mãe na sobrevivência do dia a dia. Seu irmão caçula era especial e, quando sua mãe saia para trabalhar era ele que tomava conta da casa e, entre lavar, cozinhar, limpar e cuidar de seu irmão sonhava com a chuteira dourada de seu craque preferido. Chegava até a esquecer o que fazia.
Aquela tarde era única pois entre a torcida havia um rostinho especial. Maria, a menina mais esperta e ágil da escola. Todos os garotos diziam que ela estava lá para vê-los, porém João acalentava a esperança de que a presença de Maria o era por ele.
Os anos foram passando, agora João tinha a certeza que Maria estava lá, por ele. Aquele rostinho continuava lindo, ou melhor, mais lindo ainda, como se fosse possível.
Seu devaneio é interrompido. Pedro vê e sinaliza pra seus companheiros a direção da bola. E barrado e grita:
Pô: Vocês me sacanearam, eu ia fazer o gol, seus č ă ŭ ă ă. A Maria está esperando por ele. Era meu presente de aniversário.
Fim de campeonato. O time de João perdeu. Maria consola-o dizendo:
_ Ano que vem vocês vão à forra.
A cada ano a cena se repete e João zangado continua aos gritos:
Pó: .... Era meu presente de noivado.
Outro ano:
Pó: ...Era meu presente de casamento.
Cinco anos se passaram. Recomeço do campeonato. João finalmente vê sua tão sonhada chuteira dourada fazer o gol da vitória. Seu time ganhou, com a chuteira dourada nos pés de ... Maria, que é ovacionada como artilheiro principal e João... na arquibancada fazendo o neném dormir.

Nadzieja
07/02/2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tempos de infinitos laços

O GRANDE CÂNTARO DO MUNDO
COM SEU VENTRE
DE ARGILA E DE CORAGEM
CONVOCA PALAVRAS
CONJUNTIVAS

EM TEMPO DE INFINITOS
LAÇOS.

A BÚSSOLA DO UNIVERSO
NUM GIRO DE HEMISFÉRIOS
REÚNE
OS QUATRO CANTOS
DO MUNDO
NA RODA CIBERNÉTICA
DE ABRAÇOS.

AS JANELAS DO NOVO TEMPO
RECUPERAM
ENTRE ANEXOS, ELOS E
CONEXÕES
UM REDEMOINHO
DE HORIZONTES
ACORDANDO EUREKAS
NO BIG BANG
DO SEU PRÓPRIO ECO

O SABER RENOVADO
VIRA TRAPEZISTA SIDERAL
E SEUS FIOS
SOLIDÁRIOS
ENLAÇAM A PALAVRA
(PO)ÉTICA
NAS ARGOLAS SUSPENSAS
DO FIRMAMENTO.

O GRANDE CÂNTARO DO MUNDO
MAIS GRÁVIDO QUE NUNCA
DERRAMA NESTA
PÁTRIA
TÃO PLANETÁRIA
CONCEITO VIRTUAL
DE FELICIDADE

QUANDO NA VIRTUDE
DA PALAVRA ESCRITA
MIL TECLADOS
SALVAM
SEUS FRAGMENTOS
Glória Kirinus

Tecla Esc

Por toda escuridão que cai como escama sobre os olhos,
Por toda esquizofrenia que escava e escraviza a mente.
Por toda excreção que escapa, escarra e escorre
Neste rio de escatológica humanidade.

Por tudo que é escroto, escabroso, escondido e esquisito,
Por tudo que é esculachado, esculhambado e excluído
Que escamoteia, que escancara, que escandaliza,
Que escalavra, que escangalha, que escapole pro escanteio.

Por tudo isso escrevo,
Como se a poesia fosse a tecla “Esc”
Para todos os males da vida.

Pássaro ausente

Era sábado e estávamos convidados a gastá-lo entre estranhos. Á espera do começo. Constrangidos, olhávamos para a correria do coração. Sábado na companhia de Glória, era de quem viesse - só o cavalo parado a porta da casa não se impacientava com a espera do grupo – à espera, como se fôssemos obrigados a talhar a acidez do olhar, solenes insulto de alegria - fomos convidados a sentar a mesa como fidalgos camponeses, fome que nasce na boca. Lá fora, da boca do cavalo escorriam palavras, formando espelho d’água – um facho de luz penetrava na sala. Nada poderia se opor a isso, a porta batia na benevolência do vento, em vão balançava o xale de Zélia, algo muito inspirado prosseguia. Um riso fino vagueava entre nós.
As margens da mesa vergavam nossos pensamentos...

O que escrevo agora não tem começo, é um halo de frases. Apenas fluirão dos lábios dos pássaros que cantam em coro – na janela eles voam como sementes. Entre nós, apenas um pássaro canta sozinho – é Clauber, nosso carioca, quero captar sua ausência. Essa ausência é nossa.

Precisamos ouvir os pássaros, alguma coisa tá batendo a porta – a pata do cavalo sobe os degraus. Bate, bate, não pára de bater... Os pássaros estão cantando suas frases, em cima, embaixo, dentro, fora, para todos os lados. Mas depois que Clauber cantou o “O sonho”, o adágio chega ao fim, não sei o que há. Então, ele começa apertar uma bola de papel, estava com os olhos como de um gato antes do pulo – todo o sentido avivado, deu meia-volta, afastou-se e seguiu – o céu era maior que a terra, seu coração nadava para longe... o céu contempla a terra em completo descanso – alguma coisa moveu-se no tempo – os ponteiros tiquetaqueiam em comboios, o tempo se foi ... a ausência de um dos pássaros é ampla, um morno vento invade a sala, os algarismos do tempo de Clauber se expandem, ele ultrapassa todas as curvas do relógio. O mistério é impessoal, e sua composição já não escorre na boca do babão... Enfim, em volta da mesa, estão todos os pássaros, o sol atingiu a altura da janela e iluminou a sala numa espécie de doida harmonia. Uma ventania desarruma nossos papéis, obrigo-me a lembrar que os pássaros são livres... Inútil querer classificar nosso pássaro fujão. As palavras voltam a trotar sobre o degrau – voar é sina, o que escorre agora é apenas a sintaxe do vôo...

Sábado, 13/12/2008
Nazareth Queiroz

Instinto Bicho

Virei Bicho
No acaso do sol
Li palavras, não entendi
Experimentei o olhar do deserto
Sobrevoei os dias
Cortei o cordão
Enfim, choro para viver...
Viver de bicho é coisa séria
É criar a natureza
É ultrapassar o ninho
E se sou bicho – sou livre
Para gastar a vida com que não estar escrito
Bicho é instinto...


Nazareth

Sem graça

O poeta ficou só
A espera de outros poetas,
Sua poesia emudeceu
E cessaram as canções.

Poesia é como viagens
Que se faz atrás do lugar perfeito,
Quando se chega lá sozinho
A graça já viajou para outros cantos.

Aí só me restam as fotografias...


Clauber Ramos

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Fazenda High Tech

Hoje estou visitando, não sei se meio acordado ou meio dormindo, uma fazenda bem diferente, digna destes tempos de internet, fast food e individualismo.
A fazenda possui câmeras espalhadas por todos cantos, que transmitem em tempo real o reality show da vida rural, desde o namoro no galinheiro até a preparação da saparia para o show noturno.
A fazenda é reconhecida mundialmente por sua notável produção de leite de soja, possui um enorme rebanho onde cada soja é ordenhada diariamente por métodos modernos e higiênicos. E para o bem estar das sojas leiteiras tudo é feito ao som de Roberto Carlos : “Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo!...”, a cada acorde da canção do Rei , sem nenhuma explicação cientifica, as sojas aumentam a produção do precioso leite que vertem dos seus úberes.
Outro ponto importante da fazenda é a vinícula. Uma grande plantação de vinas, ou salsichas, se preferir, pois suas safras de cachorros-quentes são premiadas internacionalmente e encantam os refinados gostos da elite mundial, afinal de contas é uma salsicha tão especial que só produz uma vina por cacho.
A horticultura ou produção de saladas é outro setor da fazenda, ao invés de produzir hortaliças individualmente, cada planta produz a salada completa e temperada. Tem por exemplo a planta de Ceasar salad que possui folhas de alface romana, brotos de queijo parmesão ralado, flores de mini pães temperados e etc... e são colhidas já com o molho especial.
Bem, há muitas outras coisas interessantes que não poderia contar-lhes nestas poucas linhas, escritas enquanto visito a fazenda acompanhando minha esposa, como já citei, não sei se meio acordado ou meio dormindo.
Ah! Já ia esquecendo! O nome da fazenda é Wal mart.
Vou parar por aqui pois o sinal sonoro do caixa-rápido já apitou duas vezes e vou ter que pagar a visita na saída. Até a próxima!
Clauber Ramos

Natal

Queridos todos, pássaros inventaram de ocupar cantos da minha casa. Sim, como presépios vivos fazem ninho aqui e lá. Como não lembrar de vocês que também ocupam meus humanos espaços, minha cabeça, meus afetos? Se o que recebo do grupo virasse canto de pássaro, precisariamos de protetor de ouvidos, tanto é seu som e seu sentido. Para todos, meu carinho especial e o poema recém amanhecido, sem tempo de passar a limpo, como a vida exige:

Meu Deus, já é dia 23
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!

Como não?

Encima do lustre velho
um sabiá chamado José
e uma sabiazinha Maria
bicam palha daqui e de lá
moldando com o corpo
um aconchego de ninho.

No meio de tantas penas
e de tantas despedidas
- quem não tem? -
esses pássaros de sempre,
ensaiam abraços de asas,
carregando uma estrela.

Uma coroa de advento
completa numa porta
seu ciclo de ciprestes.
E a eterna palavra fim
anoitecida de sonhos
madruga um recomeço..

Meu Deus, já é dia 24
e o presépio de Natal
ainda não foi montado!

Como não?

O lustre velho balança
um berço inusitado no ar.
As janelas descortinam
e se abrem de sim em sim....

Mas qual o motivo
de tanto silêncio?

É que nasce no presépio
de um sabiá chamado José
e de uma sabiazinha Maria
a própria palavra Nascimento.


Gloria Kirinus e família / Natal 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Palavra
eu te latifundio
de mãos dadas
no humus
humano, humilde,
desta quase prece
de domingo.

Gloria Kirinus

domingo, 9 de novembro de 2008

Mundo do Clemente e a Pax Americana


Introdução:

Aqui começam os relatos denominados “Pax Americana”. Inicialmente falamos sobre personagens que viveram o desabrochar desse maravilhoso mundo novo. Este período se desenvolveu depois da Segunda Guerra Mundial indo até o momento em que este passa por uma transição, qual, eventualmente, representará um novo alvorecer neste conturbado planeta.
Neste período se desenvolveu a Era do Conforto, qual, com a miniaturização, através da digitalização, veio a Era do Conhecimento, tornando-se um divisor de águas, sem a mínima possibilidade de reversão. Nela as fronteiras comerciais desapareceram, passando a ser globalizadas.
O mundo vive um momento de extrema interatividade e mobilidade. A velocidade de lenta passou a incontrolável, se vista através de pensamentos antiquados. O mundo precisa ser revisto, para tanto necessitará de novas leis que obedeçam estas novas regras do movimento.
Movimentos contínuos propõem uma vida de continuo prazer, onde se busca a felicidade. Similar ao que propôs Épicuro, hoje se vive exclusivamente do consumismo material, porém, com alta dose de falta de ética.
Os negócios até têm fronteiras, porém os lucros se transformaram em absurdos cada vez maiores, a concentração de rendas não tem precedente. A tecnologia, hoje, fustiga a alma das velhas instituições. Precisa dizer mais?


João Clemente

Sujeito nascido para brilhar, Clemente era do tipo polivalente, pois tinha variadas aptidões. Durante o dia era um sujeito aparentemente taciturno e compenetrado, trabalhava no caixa da empresa, onde tudo controlava através do seu arquivo cinza e telefone de cor preta. A máquina de cálculo era uma velha Facit, que precisava constantemente ser lubrificada.
Famoso por ser filho do velho Clemente, um operário prestimoso entre os fundadores da mina em questão, ele era querido por todos, talvez por ser em boa dose um senhor bastante folclórico.
Tendo aprendido a ler e escrever, era do departamento de Contas a Pagar, sendo notório por sua memória. Sujeito metódico, todo final de tarde colocava a surrada chuteira, vestia o uniforme do seu time do coração e lá ia ele feliz praticar o seu futebol.
Talentoso, era adepto do chute do tipo “folha seca”, também adorava dar uma bela “bicicleta”, geralmente dentro da grande área. Além de atacante, ele costumava ficar plantado na cidadela adversária. Quando já velho passou a ser técnico e juiz, por isto era motivo de chistes.
Ao anoitecer das quartas feiras, sextas, sábados e domingos, lá estava ele pilotando a sua máquina de cinema, isto quando lá não havia baile. Clemente nessa hora, já de banho tomado, passava os filmes que conseguia resgatar nos mercados da capital. Isto foi até no começo dos anos 1970.
Saudoso, lembro de quando passou o filme italiano, “Mimi - o Metalúrgico” - quem virou retirante por brigar com o patrão e votar nos comunistas – (História que levemente me lembra o nosso atual Luis Lula). A estória conta que ele foi ferido em sua honra. Mimi fora expulso da Sicília, indo para Turim, trabalhar nos florescentes centros industriais.
Apesar de censurado, na República Bananeira do 230, a “fita” caiu nas mãos do nosso herói e piloto da máquina de criar fantasias.
Sujeito dado a proteger os costumes e boa ordem, ele colocava as mãos na frente do projetor naquelas cenas que considerava atentar contra o pudor do seu público.
Paradoxal! Imaginem Clemente no seu tosco cinema pilotando 2001 – Uma Odisséia no Espaço” – obra finíssima de Kubrick, baseado no clássico do velho Arthur C. Clarke, cuidando ele da moral e dos bons costumes, num tempo em que a lei e a ordem eram resguardadas por Atos Institucionais, quais serviam para legitimação e legalização do “nosso” governo militar.
O computador do filme de Kubrick já acusava a nova IBM. Duvido que alguém naquela vila industrial tivesse a imaginação para sequer imaginar uma máquina controlando a história da Terra. Lembre-se que os efeitos especiais sufocaram o cinemascope (o milagre moderno que você vê sem óculos “e” som estereofônico de alta fidelidade “)”.
Enfim Clemente no seu cinemascope pouco sabia que vivia a “a Pax Americana”, em sua época de relevância, e, que, com a Guerra Fria, apesar de não ser fantasia, nela nenhum gatilho atômico se apertaria.
Nosso herói tinha as pernas tortas, viveu intensamente o seu tempo e morreu antes que o Bush trouxesse o fantasma da necessidade de militarização, com sua arrogância e cegueira em prol da segurança, criando eixos do mal. Similar, quando da decadência da Pax Romana, tempo em que Odoacro , ou mesmo Alarico , vieram como desgraça, todos montados a cavalo.
Caro Clemente, espero que estejamos livres de outros montados em suas mulas aladas, com suas idéias expeditas e sacramentadas. Odoacro e Alarico talvez hoje sejam banqueiros que brincam de emprestar dinheiro para as famílias de baixa renda. Sujeitos que pouco ligam para as desgraças no Congo, ou, em outras partes do mundo...

Curitiba, 24 de Março de 2008.

Palavreiro

Palavras são setas
Que injetam veneno na veia.
São metas,
São retas perpendiculares.

São portas abertas
Para quem quiser entrar,
São grandes janelas
Que nos permitem ver a rua.

São imensas tetas
De leite e deleite,
De litros de letras.

Transe com as palavras,
Entre em transe com elas,
Trance com as palavras,
Transite por meio delas

Pegue com a mão cada uma ,
Tome na mão todas elas,
Triture,
Misture,
Transforme...

Até que delas ( e de você! )
Não se encontre mais nada,
Até que nelas ( e em você! )Encontremos tudo.

De Clauber Ramos