sábado, 14 de março de 2009

S U S P I R O S

A cozinha estava escaldante. Era um dia muito quente. Ela nunca havia sentido tanto calor.
Batia vigorosamente clara de ovos colocada no prato fundo. Estava preparando para seus dois netos, que viriam visitá-la logo mais tarde, gostosos e caprichados suspiros. Docinhos que eles muito apreciavam, e que entre suspiros de satisfação, diziam sempre que aqueles, feitos pela vó eram os melhores. Tinha por isso muita satisfação ao fazê-los
Ganhara de sua filha, há pouco tempo, uma batedeira até bem moderna, mas de uso um pouco complicado. Preferia então bater as claras com o garfo, o que era mais cansativo, porém achava que assim ficavam melhores, e também não fazia tanto barulho.
Quando percebeu que as claras estavam bem consistentes, preparou a forma e iniciou o trabalho de pingar os suspiros, conseguindo que ficassem em fileiras bem certinhas. Á medida que ia colocando os docinhos na forma dava um puxaozinho na colher, para que assim se formasse em cima de cada um deles uma ponta meio longa, que os deixavam mais bonitos e com melhor aparência.
Enquanto fazia esse trabalho, lembrava de seu pai, que há muitos anos atrás, lhe contara a historia da guerra na Rússia. Ali os soldados usavam capacetes redondos de metal, e que tinham em cima uma haste aguda apontada para o alto. Parecia até ser uma arma que eles usariam se necessário, para defender-se. Seus suspiros lembravam aqueles capacetes. Ela até havia visto fotos daqueles militares em jornais bem antigos, marchando em formação perfeita. Deu um suspiro profundo, sentindo saudades de seu pai e das interessantes histórias que ele contava.
Continuou pingando as clara em filas bem certinhas. Enquanto trabalhava sonhava, e via nos suspiros as fileiras daqueles velhos soldados marchando garbosamente.
Se, seus netos pudessem vê-los iriam vibrar.
Quando colocou o último docinho, estava muito cansada e sentiu uma leve tonteira. Deixou a forma em cima do fogão e acendeu o forno. Pareceu-lhe que a tontura ficava mais forte. Sentou-se no chão.
Nesse momento seus dois netinhos entraram correndo na cozinha, fazendo uma bruta algazarra e rindo alegremente. Vendo os docinhos na forma. Gritavam:
Oba vó! Que legal! Está fazendo suspiros para nós? Vai demorar?
Estavam loucos para devorá-los.
Ouviu, mas não pode responder. Entreabriu os olhos, mas não conseguiu vê-los.
Sorriu levemente. Os meninos ouviram então um som diferente que vinha de dentro do peito da avozinha. A respiração dela estava esquisita, bem forte.
De repente ela levantou com força o queixo, gemeu e exalou seu último suspiro.
Curitiba, novembro de 2008.
Suzi Mariano Gubert.

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