domingo, 26 de abril de 2009

Fraqueza do macho

“Se tenho que me gloriar, me gloriarei em minha fraqueza.”
(2 Cor. 11:30)
Não busco palavras,
Construções perfeitas
Ou sintaxes irrepreensíveis.
Procuro sentimentos.
Sentimentos presentes no meu dia-a-dia
E ocultados pela auto-preservação.

Quero expor as mazelas da minha alma,
Trazer à luz as fraquezas encobertas
E a pobreza do meu coração.
Tenho medo, angústia, tristeza...
Sou inseguro e tenho falta de fé.

Sou fraco em coisas que às vezes
Pareço uma rocha.
Sou forte quando não deveria ser
E por isso sou independente.

Atitudes me faltam
Quando deveria agir,
Ações me atropelam
Quando deveria apenas ouvir.

Tenho necessidade de reconhecimento
E não sei lidar com ele,
Um elogio me desmonta
Tanto quanto não ser elogiado.

Sinto carência de afeto
E medo em demonstrá-lo
As pessoas me assustam,
O contato próximo me apavora.
É difícil abrir meu coração
Expor opiniões é bem mais fácil
Do que expor a si mesmo !

“Miserável homem que sou!
quem me livrará o corpo desta morte ?”

Vou em frente, luto contra mim mesmo
Com socos, tapas e pontapés
Esmurro o homem interior
Até que ele, sem forças para reagir,
Manifeste a verdadeira força que há na fraqueza

E assim sigo a rascunhar os dias,
Por vezes tateando o Infinito efêmero,
Encharcado de humanidade.

De Clauber Ramos

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Humano
O mundo atrás do homem
Um devaneio filosófico
Uma espécie de inclinação sonhada fora do mundo
Hamlet apaixonado
Infinitos signos de lembrança chegam da imensidão do mar
São Jorge num estado de alma sonhando a lua do mundo
Nudez íntima
Como se o mundo inteiro houvesse desaparecido
Êxtase do sensível!
Bocejos do humano
é senão
A beleza do outro
.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Margem
No primeiro azul do dia
Começarei a inventar uma palavra
Porque toda entonação quer perguntar
O que será mais difícil?
Ser margem, ser rio!
Conter a água, ser água contida.
Mas antes vou me deixar cair no rio
Alinhar-me as margens
Porque estar às margens é acompanhar o giroscópio íntimo da água
dizendo: entre no mundo, talhe uma margem aérea.
Porque o mundo é mais belo que verdadeiro
Aguardarei setembro chegar,
quando todas as macieiras guardam sua vermelha cor as margens da boca...
Mas vejo adiante, as águas turvas do rio, seu viver líquido alcança as margens.
Chuva deveria se chamar tristeza, claridade alegria.
Rio caminho da água, margem companhia.
Ufane afirmação, para margeadas respostas....

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Na margem da página

Na margem da página, como na margem de um rio,
Tenta em vão o poeta pescar palavras,
Enquanto estas insistem em nadar pra outra margem
É dura a vida de pescador!

Na outra margem, sem pressa,
Outro poeta, não pesca, apenas contempla
O incrível nado sincronizado
De centenas de palavras.

Não quer capturá-las, as palavras devem ser livres,
( Apenas contempla extasiado )
E as imagens seguem nadando da sua cabeça
Para a margem do papel.

De Clauber Ramos

sábado, 18 de abril de 2009

FALENAS

Gotas negras caem como temporal...
Há um movimento que canta, cantos do reflexo do rio
Quando estamos no nosso tempo, podemos observar...
Vértice do silêncio a fremir, assim o sonho não morre...
Ouço seu canto na interseção do meu canto... mas as flores frágeis ainda estão fechadas, aguardando um adjetivo para florir sua substância..
Poliédrico vôo, tudo o que toco permanece nesses limites...
Gotas aéreas de um espírito voante caem no meu canto... vôo baixo, rasante... vôo de pensamentos...
Cantam clareando o canto...
Um único canto soma o universo num cântico de silêncio atento...
Um canto de asas voantes...

Nazareth Queiroz
15/04/2009.




sábado, 11 de abril de 2009

Entre a tensão e o alvo

Atiro uma flecha no alvo
E a certeira flecha descansa,
Aguarda o momento
Em que novamente empunhada
E tensionada entre a corda e o arco,
Se lançará novamente no ar.
Estou certo que para a seta,
Mais importante que a meta atingida,
É o caminho.

Entre a tensão e o alvo
Existe um breve espaço de tempo
Que se chama liberdade.

Atiro a palavra no alvo
E neste instante ela é livre...
Só palavra, nua,desprovida de explicações.

Entre o falar e o ouvir
Existe o ínfimo momento
Em que a palavra voa solta pelo ar.

Câmera lenta é a poesia a nos permitir contemplar tais lapsos.

De Clauber Ramos
AMAR

VERBO
EXPANDIDO
NOVO LUGAR
PARA
CONJUGAR
COMO ESTAR NO MEIO
DO TEMPO
FALTANDO-LHE PESSOA,
MODO PARA
UM
AR
IRREGULAR


AMAR
QUERO COMEÇAR PELO FIM
MODO IMPERATIVO
AME(VOCÊ)
PORQUE SE EU AMASSE
PRETERITO MAIS
QUE IMPERFEITO
TRATARIA DE INDICAR NOVAS VARIAÇÕES
CONJUGARIA NO INFINITO PESSOAL
AMAR EU, NÃO.


AMAR

PRECISO DE UM VERBO AUXILIAR
SAIR DO SUBORDINADO TEMPO DO OUTRO
QUANDO PERGUNTAREM A MIM, DAREI UMA
RESPOSTA ASSIM:
FUJA RÁPIDO PARA AS FORMAS NOMINAIS
INFINITO IMPESSOAL
AMANDO-SE

AMAR

PORQUE TODOS PROFESSORES
QUEREM QUE APRENDAMOS
A CONJUGAR?
HÁ UM JEITO DE EXPLICAR,
DE EXPANDIR
SEM CONJUGAR?

NÃO

AMAR
VERBO
REGULAR
EXPANDE-SE
NO GERUNDIO
AMANDO
COM
PARTICÍPIO
AMADO.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Amor de co®po

Escondido
Por trás
Do seu chapéu
O mexicano
Apaixonado
Disse: te quero...

E a tequila
Tonta de amor

Deixou-se tomar.

Gloria Kirinus
www.gloriakirinus.com.br
In “Lâmpada de Lua”
Editora Ave Maria
SEXTA FEIRA SANTA
DA PAIXÃO

ACOMODO LENTAMENTE
ESPINHOS
NAS BORDAS DO
MEU PRATO.

DE LONGE
A SAMARITANA
APROVA ESTE BANQUETE
NUM CÁLICE
DE COMPAIXÃO.

DOIS CEDROS
EM CRUZ
ACOMPANHAM MEU SILÊNCIO.

E O ROSTO
ESQUIVO
DE CRISTO

PARECE QUE SANGRA
MENOS
Gloria Kirinus

quinta-feira, 2 de abril de 2009

CATAVENTO

Olhei para todos os livros
girei o catavento
Entre tantos ventos, veio um coro de amigos
Visconde de Sabugosa, trouxe a Deusa do Conhecimento
e ninguém há mais de ficar tão só,
Chapeuzinho Vermelho chegou na companhia de sacis da floresta, até Boitatá quis participar;
todas Bruxas, de narizes compridos, olho de peixe morto, de bicho-de-pé.
De repente a lua se encheu de toda infância
e o catavento continua aos ventos trazendo boas companhias
entre as estrelas surge Peter Pan na companhia veja só de quem? Emília e suas encrencas
Cinderela contando histórias, mas quando Menino Maluquinho chega todos ficam de boca aberta
traz consigo, Sherazade e um megafone, todos imóveis querendo saber o quê será dito!!
Ah!! Os ventos vêm e o tempo não passa...
Lá se vão horas de histórias...
Todos caem em estado de poesia numa sopa de letrinhas.
Lá ou aqui ligeirinhas tirinhas de ventos trazem lendas e fantasias
Ali-Babá e os quarenta ladrões diz que se tivesse tempo ficaria para ver Rapunzel e suas tranças,
Quantos ventos deste catavento giram atrás do tempo,
do tempo da história, de pírulas falantes.
E o que será dito neste giro de tempo do catavento?
Hoje é dia DE TODOS LIVROS QUE CONTAM HISTÓRIAS INFANTIS...