segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Palavra
eu te latifundio
de mãos dadas
no humus
humano, humilde,
desta quase prece
de domingo.

Gloria Kirinus

domingo, 9 de novembro de 2008

Mundo do Clemente e a Pax Americana


Introdução:

Aqui começam os relatos denominados “Pax Americana”. Inicialmente falamos sobre personagens que viveram o desabrochar desse maravilhoso mundo novo. Este período se desenvolveu depois da Segunda Guerra Mundial indo até o momento em que este passa por uma transição, qual, eventualmente, representará um novo alvorecer neste conturbado planeta.
Neste período se desenvolveu a Era do Conforto, qual, com a miniaturização, através da digitalização, veio a Era do Conhecimento, tornando-se um divisor de águas, sem a mínima possibilidade de reversão. Nela as fronteiras comerciais desapareceram, passando a ser globalizadas.
O mundo vive um momento de extrema interatividade e mobilidade. A velocidade de lenta passou a incontrolável, se vista através de pensamentos antiquados. O mundo precisa ser revisto, para tanto necessitará de novas leis que obedeçam estas novas regras do movimento.
Movimentos contínuos propõem uma vida de continuo prazer, onde se busca a felicidade. Similar ao que propôs Épicuro, hoje se vive exclusivamente do consumismo material, porém, com alta dose de falta de ética.
Os negócios até têm fronteiras, porém os lucros se transformaram em absurdos cada vez maiores, a concentração de rendas não tem precedente. A tecnologia, hoje, fustiga a alma das velhas instituições. Precisa dizer mais?


João Clemente

Sujeito nascido para brilhar, Clemente era do tipo polivalente, pois tinha variadas aptidões. Durante o dia era um sujeito aparentemente taciturno e compenetrado, trabalhava no caixa da empresa, onde tudo controlava através do seu arquivo cinza e telefone de cor preta. A máquina de cálculo era uma velha Facit, que precisava constantemente ser lubrificada.
Famoso por ser filho do velho Clemente, um operário prestimoso entre os fundadores da mina em questão, ele era querido por todos, talvez por ser em boa dose um senhor bastante folclórico.
Tendo aprendido a ler e escrever, era do departamento de Contas a Pagar, sendo notório por sua memória. Sujeito metódico, todo final de tarde colocava a surrada chuteira, vestia o uniforme do seu time do coração e lá ia ele feliz praticar o seu futebol.
Talentoso, era adepto do chute do tipo “folha seca”, também adorava dar uma bela “bicicleta”, geralmente dentro da grande área. Além de atacante, ele costumava ficar plantado na cidadela adversária. Quando já velho passou a ser técnico e juiz, por isto era motivo de chistes.
Ao anoitecer das quartas feiras, sextas, sábados e domingos, lá estava ele pilotando a sua máquina de cinema, isto quando lá não havia baile. Clemente nessa hora, já de banho tomado, passava os filmes que conseguia resgatar nos mercados da capital. Isto foi até no começo dos anos 1970.
Saudoso, lembro de quando passou o filme italiano, “Mimi - o Metalúrgico” - quem virou retirante por brigar com o patrão e votar nos comunistas – (História que levemente me lembra o nosso atual Luis Lula). A estória conta que ele foi ferido em sua honra. Mimi fora expulso da Sicília, indo para Turim, trabalhar nos florescentes centros industriais.
Apesar de censurado, na República Bananeira do 230, a “fita” caiu nas mãos do nosso herói e piloto da máquina de criar fantasias.
Sujeito dado a proteger os costumes e boa ordem, ele colocava as mãos na frente do projetor naquelas cenas que considerava atentar contra o pudor do seu público.
Paradoxal! Imaginem Clemente no seu tosco cinema pilotando 2001 – Uma Odisséia no Espaço” – obra finíssima de Kubrick, baseado no clássico do velho Arthur C. Clarke, cuidando ele da moral e dos bons costumes, num tempo em que a lei e a ordem eram resguardadas por Atos Institucionais, quais serviam para legitimação e legalização do “nosso” governo militar.
O computador do filme de Kubrick já acusava a nova IBM. Duvido que alguém naquela vila industrial tivesse a imaginação para sequer imaginar uma máquina controlando a história da Terra. Lembre-se que os efeitos especiais sufocaram o cinemascope (o milagre moderno que você vê sem óculos “e” som estereofônico de alta fidelidade “)”.
Enfim Clemente no seu cinemascope pouco sabia que vivia a “a Pax Americana”, em sua época de relevância, e, que, com a Guerra Fria, apesar de não ser fantasia, nela nenhum gatilho atômico se apertaria.
Nosso herói tinha as pernas tortas, viveu intensamente o seu tempo e morreu antes que o Bush trouxesse o fantasma da necessidade de militarização, com sua arrogância e cegueira em prol da segurança, criando eixos do mal. Similar, quando da decadência da Pax Romana, tempo em que Odoacro , ou mesmo Alarico , vieram como desgraça, todos montados a cavalo.
Caro Clemente, espero que estejamos livres de outros montados em suas mulas aladas, com suas idéias expeditas e sacramentadas. Odoacro e Alarico talvez hoje sejam banqueiros que brincam de emprestar dinheiro para as famílias de baixa renda. Sujeitos que pouco ligam para as desgraças no Congo, ou, em outras partes do mundo...

Curitiba, 24 de Março de 2008.

Palavreiro

Palavras são setas
Que injetam veneno na veia.
São metas,
São retas perpendiculares.

São portas abertas
Para quem quiser entrar,
São grandes janelas
Que nos permitem ver a rua.

São imensas tetas
De leite e deleite,
De litros de letras.

Transe com as palavras,
Entre em transe com elas,
Trance com as palavras,
Transite por meio delas

Pegue com a mão cada uma ,
Tome na mão todas elas,
Triture,
Misture,
Transforme...

Até que delas ( e de você! )
Não se encontre mais nada,
Até que nelas ( e em você! )Encontremos tudo.

De Clauber Ramos