sábado, 21 de fevereiro de 2009

Nó de nós

Nós de nó
Nós entre nós
Nós entre eu
Nós entre você
Isto de nós
Entre nós
Nós a sós
Entre nós



21/02/2009
NazarethQueiroz

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Se não fôssemos amigos o coração se apresentaria sozinho, até o silêncio se comunicaria,
mas o vento é vazio e sem promessas.
Que se espera? Esperamos ser julgados por um pássaro enlouquecido que atravessa o silêncio.
Inútil
A palavra dita já esvaziou o silêncio. Então, ficamos calados, porque se não fôssemos silêncio – deixaríamos de ser amigos...

...que é poesia

Não sei o que é poesia

Todos meus fios de cabelo dormem

Todo meu corpo é ilha

Todo meu silêncio encharcado na chuva

Alucinada corro entre pingos

Parei na margem tranqüila da taça

Mergulhei no vinho triste

Porque sinto muito frio

Porque o céu estar tão escuro

Meu caderno atulhado de frases

Todas as frases com fome

Despencam

Sem palavras....

Nazareth Queiroz

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Chuteira de João e Maria

No campinho, João levanta poeira com sua chuteira nova. Está eufórico, quase não cabe em si de tanta alegria. Era a primeira participação como titular da equipe. Até então só entrava para “quebrar um galho”. Não poderia jogar com chinelo de dedo ou descalço pois sempre lhe arrebentavam, principalmente o dedão.
Mas agora não. Aquele dia era especial. Havia ganhado sua primeira chuteira.
No campeonato da escola tivera inicio e lá estava ele. Fazia parte daquela turma de moleques, mesmo tendo pouco tempo para os treinos, pois precisava ajudar sua mãe na sobrevivência do dia a dia. Seu irmão caçula era especial e, quando sua mãe saia para trabalhar era ele que tomava conta da casa e, entre lavar, cozinhar, limpar e cuidar de seu irmão sonhava com a chuteira dourada de seu craque preferido. Chegava até a esquecer o que fazia.
Aquela tarde era única pois entre a torcida havia um rostinho especial. Maria, a menina mais esperta e ágil da escola. Todos os garotos diziam que ela estava lá para vê-los, porém João acalentava a esperança de que a presença de Maria o era por ele.
Os anos foram passando, agora João tinha a certeza que Maria estava lá, por ele. Aquele rostinho continuava lindo, ou melhor, mais lindo ainda, como se fosse possível.
Seu devaneio é interrompido. Pedro vê e sinaliza pra seus companheiros a direção da bola. E barrado e grita:
Pô: Vocês me sacanearam, eu ia fazer o gol, seus č ă ŭ ă ă. A Maria está esperando por ele. Era meu presente de aniversário.
Fim de campeonato. O time de João perdeu. Maria consola-o dizendo:
_ Ano que vem vocês vão à forra.
A cada ano a cena se repete e João zangado continua aos gritos:
Pó: .... Era meu presente de noivado.
Outro ano:
Pó: ...Era meu presente de casamento.
Cinco anos se passaram. Recomeço do campeonato. João finalmente vê sua tão sonhada chuteira dourada fazer o gol da vitória. Seu time ganhou, com a chuteira dourada nos pés de ... Maria, que é ovacionada como artilheiro principal e João... na arquibancada fazendo o neném dormir.

Nadzieja
07/02/2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tempos de infinitos laços

O GRANDE CÂNTARO DO MUNDO
COM SEU VENTRE
DE ARGILA E DE CORAGEM
CONVOCA PALAVRAS
CONJUNTIVAS

EM TEMPO DE INFINITOS
LAÇOS.

A BÚSSOLA DO UNIVERSO
NUM GIRO DE HEMISFÉRIOS
REÚNE
OS QUATRO CANTOS
DO MUNDO
NA RODA CIBERNÉTICA
DE ABRAÇOS.

AS JANELAS DO NOVO TEMPO
RECUPERAM
ENTRE ANEXOS, ELOS E
CONEXÕES
UM REDEMOINHO
DE HORIZONTES
ACORDANDO EUREKAS
NO BIG BANG
DO SEU PRÓPRIO ECO

O SABER RENOVADO
VIRA TRAPEZISTA SIDERAL
E SEUS FIOS
SOLIDÁRIOS
ENLAÇAM A PALAVRA
(PO)ÉTICA
NAS ARGOLAS SUSPENSAS
DO FIRMAMENTO.

O GRANDE CÂNTARO DO MUNDO
MAIS GRÁVIDO QUE NUNCA
DERRAMA NESTA
PÁTRIA
TÃO PLANETÁRIA
CONCEITO VIRTUAL
DE FELICIDADE

QUANDO NA VIRTUDE
DA PALAVRA ESCRITA
MIL TECLADOS
SALVAM
SEUS FRAGMENTOS
Glória Kirinus

Tecla Esc

Por toda escuridão que cai como escama sobre os olhos,
Por toda esquizofrenia que escava e escraviza a mente.
Por toda excreção que escapa, escarra e escorre
Neste rio de escatológica humanidade.

Por tudo que é escroto, escabroso, escondido e esquisito,
Por tudo que é esculachado, esculhambado e excluído
Que escamoteia, que escancara, que escandaliza,
Que escalavra, que escangalha, que escapole pro escanteio.

Por tudo isso escrevo,
Como se a poesia fosse a tecla “Esc”
Para todos os males da vida.

Pássaro ausente

Era sábado e estávamos convidados a gastá-lo entre estranhos. Á espera do começo. Constrangidos, olhávamos para a correria do coração. Sábado na companhia de Glória, era de quem viesse - só o cavalo parado a porta da casa não se impacientava com a espera do grupo – à espera, como se fôssemos obrigados a talhar a acidez do olhar, solenes insulto de alegria - fomos convidados a sentar a mesa como fidalgos camponeses, fome que nasce na boca. Lá fora, da boca do cavalo escorriam palavras, formando espelho d’água – um facho de luz penetrava na sala. Nada poderia se opor a isso, a porta batia na benevolência do vento, em vão balançava o xale de Zélia, algo muito inspirado prosseguia. Um riso fino vagueava entre nós.
As margens da mesa vergavam nossos pensamentos...

O que escrevo agora não tem começo, é um halo de frases. Apenas fluirão dos lábios dos pássaros que cantam em coro – na janela eles voam como sementes. Entre nós, apenas um pássaro canta sozinho – é Clauber, nosso carioca, quero captar sua ausência. Essa ausência é nossa.

Precisamos ouvir os pássaros, alguma coisa tá batendo a porta – a pata do cavalo sobe os degraus. Bate, bate, não pára de bater... Os pássaros estão cantando suas frases, em cima, embaixo, dentro, fora, para todos os lados. Mas depois que Clauber cantou o “O sonho”, o adágio chega ao fim, não sei o que há. Então, ele começa apertar uma bola de papel, estava com os olhos como de um gato antes do pulo – todo o sentido avivado, deu meia-volta, afastou-se e seguiu – o céu era maior que a terra, seu coração nadava para longe... o céu contempla a terra em completo descanso – alguma coisa moveu-se no tempo – os ponteiros tiquetaqueiam em comboios, o tempo se foi ... a ausência de um dos pássaros é ampla, um morno vento invade a sala, os algarismos do tempo de Clauber se expandem, ele ultrapassa todas as curvas do relógio. O mistério é impessoal, e sua composição já não escorre na boca do babão... Enfim, em volta da mesa, estão todos os pássaros, o sol atingiu a altura da janela e iluminou a sala numa espécie de doida harmonia. Uma ventania desarruma nossos papéis, obrigo-me a lembrar que os pássaros são livres... Inútil querer classificar nosso pássaro fujão. As palavras voltam a trotar sobre o degrau – voar é sina, o que escorre agora é apenas a sintaxe do vôo...

Sábado, 13/12/2008
Nazareth Queiroz

Instinto Bicho

Virei Bicho
No acaso do sol
Li palavras, não entendi
Experimentei o olhar do deserto
Sobrevoei os dias
Cortei o cordão
Enfim, choro para viver...
Viver de bicho é coisa séria
É criar a natureza
É ultrapassar o ninho
E se sou bicho – sou livre
Para gastar a vida com que não estar escrito
Bicho é instinto...


Nazareth

Sem graça

O poeta ficou só
A espera de outros poetas,
Sua poesia emudeceu
E cessaram as canções.

Poesia é como viagens
Que se faz atrás do lugar perfeito,
Quando se chega lá sozinho
A graça já viajou para outros cantos.

Aí só me restam as fotografias...


Clauber Ramos