sexta-feira, 29 de maio de 2009

O Poeta e a Estrela

Ao contemplar a estrela
Deus chorava sozinho
E molhava a noite de sal.

As lágrimas que caiam
Espelhavam o infinito brilho
Enchendo a noite de sol.

Sal e sol se misturavam
Condensados ao brilho
Surgindo o primeiro mar.

Do mar então veio a terra,
Da terra as plantas e bichos
Parindo vida e sentido.

Diante de tanta beleza
O Deus poeta tão só,
Ansiou compartilhar.

E num rompante de poesia
Imerso em imensa alegria
Criou o homem e a mulher

Parecia que agora
Deus teria companhia
Para olhar a estrela,

Mas a mulher e o homem
Não enxergaram a poesia
De um bate-papo com Deus.

Porém a solidão do criador
Não é solidão humana,
Não se cansa de esperar.

Assim sempre que alguém,
Aquela estrela admira
Vira Poeta e amigo de Deus.

De Clauber Ramos

sábado, 23 de maio de 2009

Madrugada Morna

Para Nazareth Queiroz
Acordo na madrugada morna, os olhos estão chumbados, mas a mente em turbilhão ricocheteia entre os oito cantos do quarto. O ziguezaguear me deixa tonto e perplexo. Pergunto: o que fazer? Minha pergunta volta em um infinito ecoar de cachoeira.

Olho em volta e me detenho em duas pequenas mariposas que voam freneticamente em volta de um sol-miragem ao lado da cama. Jogo pro lado o travesseiro e atravesso o tempo a observar a ilusão da falsa luz que não as leva a lugar algum. Persigo a mesma utopia. Sou apenas mais um inseto neste mundo de sapos! Ouço novamente os ecos de meus questionamentos.

Levanto, sigo desnorteado pelo corredor como quem foge de uma prisão, mas ainda me sinto preso. Tomo um copo d’água, a sede continua. Continua e nua, sede de não sei que.
Pela janela, entre as grades, observo os poucos carros que passam quebrando a monotonia da madrugada. De onde eles estão vindo? Prá onde será que irão? Meu Deus! Nem sei de mim, por que ainda me preocupo com tais coisas? Olho prá rua como Narciso em frente ao espelho! Olho pra mim como a enfrentar a esfinge, decifra-me ou te devoro!

Volto pro quarto, arrumo os travesseiros, tento espantar a insônia que insiste em me chamar pra briga, olho pro lado e vejo as mariposas caídas ao lado do abajur, cadavérico fim de uma busca sem sentido algum.

A insônia persiste, é forte. Mas eu também serei forte quando brilhar o primeiro raio de sol da aurora. Eu também serei forte quando a verdadeira luz entrar por entre as frestas da cortina.

De Clauber Ramos

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Se soubesses


Se soubesses, que meia-noite olho o céu –
um mundo aéreo de tons suaves me leva,
um feixe de forças voantes me transporta para uma brancura noturna...
Se soubesses, que meia-luzes primitivas roubam meu sono, tua imagem se aninha numa luz leitosa, o leite da lua, banha o céu...
Se soubesses, que essa claridade que ofusca leva tua imagem....
Se soubesse, da tua matéria, sairia do seio da noite intumescida,
para penetrar nos cumes, como nuvem de fogo,
Se soubesses, da alegria dos teus olhos, multicolorido silêncio...
Imponderável hiato
Se soubesses, cheiros de ti,
se faz presente e alinha os vértices do ângulo...
Se soubesses, da força que vem dos sonhos
da sede, ouviria da tua boca todo hino que flutua
água doce
escorrendo para o rio
Se soubesses,
mas ainda não conheces
Se eu mesma conhecesse
para existir
e
soubesses de mim...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MÃE

É teu destino, ô mãe
Amar com amor
Às seis da amanhã, hora da missa
Mãe chama, vem se não esfria...
Pingos de mãe, vão caindo sem parar
Ô Mãe , entende sem perguntar
Mãe vai pingando, pingos de ave-maria
Colhi meus sonhos e pede a virgem Maria
Não é para entender o que mãe pensa
E o terço escorrendo Pai-Nosso e Salve Rainha
Pingos de mãe vão caindo
A qualquer hora a qualquer dia
Canta para que eu ache a vida
Reza seus pingos a Deus pelos filhos
Ô Mãe, as palavras de nosso senhor cantas com louvor
Pingos de doce cor
Caem acendendo a beleza da vida
Sol-com-chuva e arco-íris com lua
Ô meu Deus, pingos de Mãe não cessam
Armazém do mundo
Pôs o mundo no colo
Sossega borboletas
Porque seu amor é tão leve
Quanto seu sorriso
Ô Mãe, tua luz
É sopro de vida.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Banzo

Minha mãe fazia acrobacias com pedrinhas,
Às vezes com laranjas,
Outras vezes com os sete filhos.

Cantava quase o dia inteiro,
Gostava de dançar
E escrevia nos seus diários aquilo que lhe vinha à mente.

Tinha um álbum de postais
Onde curtia o banzo da terra Natal
E a alegria de eternas lembranças.

Fazia um pudim de pão
Simples,
Mas com gosto de mãe.

Um dia ela me mostrou Deus
E algum dia, eu sei,
Deus me mostrará novamente ela.

De Clauber Ramos